terça-feira, 7 de agosto de 2012

TRAMANDO OS FIOS DA EDUCAÇÃO MUSICAL: MÉTODOS ATIVOS


Resenha do texto:

FONTERRADA, Marisa Trench de Oliveira. De Tramas e Fios: Um ensaio sobre música e educação in “Tramando os fios da educação musical: os métodos ativos”  Cap. 2, p. 119-206. São Paulo: Editora UNESP; Rio de Janeiro: Funarte, 2008. 



Assim como nas mudanças dos contextos sociais ocidentais na passagem do século XIX para XX, na educação musical também foram traçadas novas perspectivas e métodos.
Nas décadas de 50 e 60 alguns destes métodos foram introduzidos no Brasil, mas por uma séria de fatores, como por exemplo, a substituição do ensino de Música por Educação Artística nos currículos escolares em 1971, muitas dessas abordagens ficaram esquecidas.
No séc. XIX visava-se a formação de exímios intérpretes musicais, provavelmente por já haver na história muitos compositores e tantas obras de grande magnitude que precisavam serem executadas para grandes platéias de novos ouvintes.
Deste modo, nas escolas técnicas de música a prioridade era o ensino instrumental, forma que contraria os educadores musicais pioneiros nos métodos, que visavam primeiramente o bem estar e o desenvolvimento da criança, aplicando a técnica instrumental apenas numa etapa posterior de ensino.
Dentre os músicos educadores mais significativos para o Brasil estão:

     Émile-Jaques Dalcroze
     Edgar Willems
     Zoltan Kodály
     Carl Orff
     Shinichi Suzuki

A PRIMEIRA GERAÇÃO

DALCROZE (1865-1950) - Movimento corporal e habilidade de escuta.

Constatou que os alunos do conservatório não imaginavam o som dos acordes escritos. Estabeleceu para a sua Educação Musical uma sistematização das condutas: Música, Escuta e Movimento.
Se preocupou muito com o novo século, e em sua responsabilidade de promover a educação das massas.

     ORGÃOS EDUCACIONAIS
     PROFESSORES
     ARTISTAS

Para ele a educação do povo deveria ser liderada por uma elite de artistas, pois líderes interessados apenas em progresso não teriam a capacidade de conduzir o povo.

SÉCULO XIX – VERDADE NA NATUREZA
RÍTMOS NATURAIS
PSICOFÍSICA

Muitas das conclusões de Dalcroze foram frutos de sua intuição e não diretamente da experimentação. Ele foi combatido no meio musical. Fato que o forçou a aprofundar suas pesquisas com argumentos sólidos e trabalho experimental.
Sua interpretação da realidade permanecia inserida no pensamento romântico.

     REVOLUÇÃO FRANCESA
     Aumento populacional
     Forças coletivizantes
     Educação das Massas

     COLETIVO => Força selvagem
     MÚSICA => Chicote de um domador de feras

Foi uma época de enfraquecimento da igreja, que era reponsável por muita utilização da música.

“nenhuma evolução, nenhum progresso podem ocorrer sem a participação da juventude, pois são nos espíritos jovens que as idéias deitam suas raízes mais profundas” (Dalcroze, “Un essai de réforme de l'enseignement musical dans les écoles”, 1905, in 1965, p.14).

As autoridades escolares não tomavam conhecimento das recentes teorias educacionais de Froebel, Pestalozzi e Claparede, e da análise sobre a falta da música na escola feita por Mathias Lussy.
Só a 'verdadeira' educação daria a “oportunidade para o máximo desenvolvimento das potencialidades humanas”.
Dalcroze dedicou sua vida à essa utopia.

VERBO, GESTO E MÚSICA
Ideal artístico dificilmente concretizado

“Toda ação artística é um ato educativo e o sujeito a que se destina essa educação é o cidadão, seja ele criança, jovem ou adulto.”
RÍTMICA – MÚSICA E MOVIMENTO – ATIVIDADE EDUCATIVA

Desenvolvimento:
ESCUTA ATIVA
VOZ CANTADA
MOVIMENTO CORPORAL
USO DO ESPAÇO

Ritmo e atividade motora:
A Rítmica ocupa uma posição peculiar em relação a outros métodos e abordagens em educação musical.
Ela não é um fim em si mesma, mas um meio de estabelecer relações.

EDGAR WILLEMS (1890-1978)

Aluno de Dalcroze.
Necessidade de ensinar música à toda a população – Ideal democrático da Revolução Francesa.
Introdução da humanidade na educação musical.
Operar em bases racionais e encontrar as relações entre a música e o homem.
Status científico à Educação Musical.

AUDIÇÃO => Sensorial, Afetiva e Mental

Defensor da causa na qual a cultura auditiva deve ser difundida para todos, e deixar de ser exclusividade de pessoas talentosas a educação musical.
A escuta (preparo auditivo) é a base para a musicalidade e deve vir antes do instrumento musical.
MUNDO OBJETIVO DAS VIBRAÇÕES SONORAS
MUNDO SUBJETIVO DAS IMAGENS SONORAS

Helmholtz => Willems => As leis estéticas e artísticas não contradizem as leis naturais que governam os sons e suas relações.

Comenius: “Não há nada no intelecto humano que não tenha antes passado pelos sentidos.”
Dessa forma Willems, em seu sistema de educação, dirige primordialmente ao desenvolvimento da função do órgão auditivo.

SENSORIALIDADE AUDITIVA=> Fenômeno sonoro, som como entidade física.
SENSIBILIDADE AFETIVA AUDITIVA=> Passar do ato objetivo, sensorial de ouvir para o ato subjetivo de escutar.
Nesse estágio é necessária uma melodia, que pode trazer sentimentos, ou algo que mexa com a mente do indivíduo (nostalgia, alegria, tristeza, esperança, amor, dor, etc.).
INTELIGÊNCIA AUDITIVA=> Consciência do universo sonoro. O ouvido registra os sons isoladamente.
A atividade cerebral apreende a simultaneidade dos sons.
Imaginação criativa – imaginar e criar imagens sonoras.

ZOLTAN KODÁLY (1882-1967)

Nacionalista húngaro que reconstruiu a cultura musical húngura, perdida por muitos anos por influência de sucessivos invasores territoriais.
O trabalho científico de Kodály e seu grupo em prol da redescoberta da cultura húngara apresentava quatro fases:

·         COLETA DE MATERIAL
·         TRANSCRIÇÃO
·         CLASSIFICAÇÃO
·         PUBLICAÇÃO

Para Kodály a composicação musical, a pesquisa científica e a educação musical possuem igualdade de condições.
Uma de suas metas era ensinar o espírito do canto a todas as pessoas, por meio de um eficiente programa de alfabetização musical.
No Brasil, o sistema Kodály é difundido pela Sociedade Kodály do Brasil, em São Paulo, que oferece cursos regulares e de curta duração, e busca no folclore brasileiro equivalências às constantes encontradas nas canções húngaras.

CARL ORFF (1895-1982)

RÍTMO / MOVIMENTO / IMPROVISAÇÃO
Não deixou textos que explicassem sua filosofia e os princípios de sua abordagem.
Mas como houve grande difusão da abordagem Orff pelos países da Europa e   América, há um grande material secundário que pode aprofundar nosso entendimento.
Inclusive Associações Orff que se encarregam de difundir pesquisar e aplicar os princípios elaborados por Orff.
Ele priorizava em seus metódos a escala pentatônica, utilizando-a como base para o aprendizado de música. Isso pelo motivo de que o modelo pentatônico surgiu historicamente antes do tonalismo, e ela possui caráter circular, não direcional e comporta a superposição de todos os seus componentes sonoros.

SHINICHI SUZUKI (1898-1998)

No livro 'Educação é Amor', afirma que toda criança, potencialmente, tem a capacidade de aprender música.
Para Suzuki, assim como as crianças aprendem sua língua materna cedo, pelo fato de ter a companhia dos pais tentando se comunicar  desde que elas estão na barriga da mãe, o mesmo acontece com a música.
O método Suzuki presupõe que as pessoas são produto de seu meio. E o meio pode ser fabricado artificialmente de modo a proporcionar o que for ideal para as crianças.
O meio que proporciona o desenvolvimento musical da criança, é aquele em que os pais estão tocando e cantando na mesma frequência em que se comunicam verbalmente.
Entre diversas instruções, Suzuki afirma que a criança já deve tocar de ouvido para só depois então ter contato com a leitura e teoria musical.
Por mais que o período de vida desses educadores coincidisse com a produção musical de vanguarda, o material utilizado por eles nas aulas de música foi mais tradicional do que inovador.
Só no final da década de 1950 e 60 que os procedimentos das aulas se alinharam aos da vanguarda musical.

A SEGUNDA GERAÇÃO

Época de virada da produção musical, meados da década de 1950.

·         Pesquisas de Pierre Schaeffer
·         Experiências de música eletrônica de Eimert e Stockhausen

“Música é sons, sons à nossa volta, quer estejamos dentro ou for a de salas de concerto” (Cage, apud Schafer, 1991b, p.120)
Essa nova geração de educadores musicais privilegiam a criação, a escuta ativa, a ênfase no som e suas características, e evitam a reprodução vocal e instrumental que denominam “música do passado”.

·         GEORGE SELF
·         JOHN PAYNTER
·         BORIS PORENA
·         MURRAY SCHAFER

GEORGE SELF

Ensino de música voltado ao passado: “adestramento musical dos alunos”.
Nas ciências e em outras formas de arte, os alunos trabalham com a linguagem contemporânea e estão alinhados às mais recentes descobertas científicas ou às últimas produções artísticas, enquanto na aula de música, em seu país, sucede justamente o contrário.
Classifição dos instrumentos: Instrumentos que produzem sons curtos, sons de extinção gradual e sons sustentados.

JOHN PAYNTER

A grande marca do século foi a valorização da experiência individual e não a manutenção das tradições.
Aula de música: Oficina de Experimentação

BORIS PORENA

O foco da abordagem do fenômeno musical é o procedimento lúdico. Aulas abertas, caráter de “oficina”, com ênfase na criatividade.
MURRAY SCHAFER

Acredita mais na qualidade da audição, na relação equilibrada entre homem e ambiente, e no estímulo a atividade criativa do que em teorias de aprendizagem musical e métodos pedagógicos.
A criança, isenta de atitudes preconceituosas em geral encontradas entre os adultos, tem capacidade para apreciar tanto a música do passado quanto a de vanguarda, e deve ser estimulada a tomar contato com produções de vários estilos e épocas.

Educação Musical ==> Educação Sonora

Falou-se apenas de materiais europeus e americanos, nada foi exposto com referência a outras culturas. Nossa sistematização de pesquisas e experimentações nos vêm desses países. O modelo de pós-graduação brasileiro é americano, e isso se reflete na própria bibliografia a que se tem acesso.










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