LAURO DE OLIVEIRA
LIMA, eu seu livro Introdução à Pedagogia (1983),
trabalha com
alguns ditados populares que remetem a concepções de
ensino-aprendizagem
importantes a serem retomadas em nosso estudo
sobre o
currículo escolar.
“Pau que nasce
torto, morre torto”
(o autor citado prefere “quem é bom nasce feito”).
Se
eu, professor, penso assim, isso pode significar que eu acredito que os
instintos, as vocações e as aptidões são predominantes no ser humano (LIMA,
1983), e que as relações estabelecidas entre um ser humano e outros de sua
espécie e seu meio não são tão relevantes para sua formação quanto aquilo que o
sujeito traz ao nascer. Nesta perspectiva, existe uma predefinição a respeito
das capacidades ou incapacidades para aprender e, a escola será apenas um palco
onde essas capacidades e incapacidades serão reveladas. Esta perspectiva
pedagógica é chamada INATISMO ou APRIORISMO.
Conhecer,
diz Platão, é recordar a verdade que já existe em nós; é despertar a razão para
que ela se exerça por si mesma. Por isso, Sócrates fazia perguntas, pois,
através delas, as pessoas poderiam lembrar-se da verdade e do uso da razão. Se
não nascêssemos com a razão e com a verdade, indaga Platão, como saberíamos que
temos uma ideia verdadeira ao encontrá-la? Como poderíamos distinguir o
verdadeiro do falso, se não nascêssemos conhecendo essa diferença? (CHAUÍ,
2000).
“Água mole em
pedra dura, tanto bate até que fura”
Oposta
à primeira concepção, o entendimento expresso neste ditado implica acreditar
que tudo o que é “impresso” no ser humano é resultado do meio externo a ele,
significa considerar o meio em que o sujeito vive, e suas experiências neste
meio, como determinantes de seus comportamentos, valores, saberes e crenças. Do
ponto de vista docente, o ditado popular representa a visão do ser humano como
uma tábua rasa, sobre a qual podemos marcar comportamentos, valores, saberes e
crenças. A assimilação destes comportamentos, valores, saberes e crenças se
daria pela insistência, repetição exaustiva de exercícios, prêmios e castigos
que tentam enquadrar o sujeito nos parâmetros desejados (ver mais em LIMA,
1983). Esta perspectiva pedagógica é conhecida como EMPIRISMO.
“Quem com ferro
fere com ferro será ferido”
Esta
concepção remete-nos a entender que nada tem um lado só, ou seja, que tudo o
que se faz tem suas implicações: uma relação de dois lados (no mínimo). Transposta
para os entendimentos possíveis dos processos de ensino-aprendizagem, esta
compreensão representa, para o docente, que nem o ser humano é apenas seus
traços biológicos, trazidos ao nascer, e, ao mesmo tempo, não é, apenas, as
suas experiências em um meio físico, social e cultural. Há uma compreensão DIALÉTICA,
que se refere à interação entre a base biológica e o meio físico, social e
cultural implicada nos processos de aprendizagem. Ou seja, o ser humano não é
apenas sua bagagem biológica, assim como também não é apenas as experiências
que adquire em seu meio físico, social e cultural. Nesta perspectiva, somos seres
(cada um) únicos que nos formamos em uma relação conflituosa entre as condições
biológicas e as interações estabelecidas (no sentido de trocas) no meio em que
vivemos (que é físico, social e cultural).
Dentro
desta perspectiva de desenvolvimento, encontram-se as visões sobre aprendizagem
interacionistas, CONSTRUTIVISTAS e socio-históricas, por exemplo. Estas visões
conceberão o conhecimento como construção, ora mais social e cultural, ora mais
subjetiva ou intersubjetiva.