A palavra motivação, quando decomposta, revela a combinação motivo +
ação. Ou seja, já traz em si a ideia de que é preciso um motivo para que uma
ação ocorra. E o motivo, do latim movere, é aquilo que move alguma coisa.
Portanto, motivação é a força que gera uma ação, uma atitude! Em tudo que nos
propomos a fazer carecemos de um certo impulso, de uma certa energia que nos
movimente na direção do alvo que elegemos. Sentimos a necessidade de que
habite em nós um interesse genuíno, um desejo vigoroso de que realizemos a
tarefa proposta. Podemos denominar tal fenômeno de motivação. Todavia,
ninguém motiva ninguém. Esse desejo imenso de se lançar à frente é pessoal e
intransferível, é de uma dimensão endógena, isto é, seu movimento se dá de
dentro para fora. Como muito lindamente já o dissera o poeta romano Sêneca:
“Merecem louvor os homens que em si mesmos encontraram o impulso e subiram
nos seus próprios ombros”. Mas nós, aqui do lado de fora, podemos construir
“motivos” para que o outro sinta interesse em motivar-se, em envolver-se com
alegria e ímpeto nas ações que são propostas. E, na sala de aula, essa
questão é aguda e é uma das situações pilares que contribuem para o prazer em
ser educador! Siga minhas reflexões, mas lembre: como tudo na vida, a
motivação não é um combustível perene, é um recurso renovável, por isso mesmo
precisa ser reposta corriqueiramente.
1. Regra de ouro: a sala de aula tem que ser prazerosa, divertida, saborosa,
mágica, e isso tudo nada custa!
2. Entre na dança! A festa só fica divertida quando a gente entra na dança;
assistir de fora não está com nada!
3. Faça o que for possível para que o tempo que os alunos estiverem com você
seja o mais apetitoso da vida deles! Acabará sendo para você também! Aliás, o
apetite de aprender está intimamente ligado ao apetite de viver!
4. Leve à turma um ex-aluno bem-sucedido para a moçada conversar com ele. A
história de vida que ouvirão do convidado impactará muito mais do que você
contando! E mais, eles pensarão: “Se ele saiu daqui e chegou aonde chegou, eu
também posso chegar lá!”.
5. Conte metáforas enriquecedoras.
6. Exiba filmes que falem de superação e discuta-os com seus alunos. Tente
esgotar ao máximo as relações que as ficções podem fazer com as realidades
vividas por eles. Quer dez sugestões bem legais? Vamos lá:
• Coach Carter: Treino para a Vida (2005) - Estados Unidos/Alemanha, 136
minutos.
O filme conta a história de Ken Carter, interpretado por Samuel L. Jackson.
Carter é um empresário que se torna treinador do time de basquete da escola
onde estudou, na periferia da cidade. Disciplinador, o técnico estabelece um
rígido código de conduta que leva em conta até o desempenho escolar. Ele
percebe que, quando as notas dos alunos decaem, o desempenho da equipe também
fraqueja e vice-versa, mas ele tem uma solução.
• Meu Pé Esquerdo (1989) - Irlanda, 103 minutos.
O filme conta a história de Christy Brown, interpretado por Daniel Day-Lewis.
Brown é uma criança que nasce portadora de uma paralisia cerebral que apenas
lhe poupa o pé esquerdo. Dominando tão somente esse recurso, ele supera todas
as adversidades e desenvolve seus talentos para a pintura e para as letras.
• O Óleo de Lorenzo (1992) - Estados Unidos, 135 minutos.
Conta a história de Lorenzo, uma criança que, aos seis anos, descobre-se
portadora de uma doença cerebral degenerativa incurável que delimita sua vida
em somente mais dois anos. São seus pais que tomam a frente na busca para
amenizar seus sofrimentos e prolongar sua expectativa de vida.
• Uma Mente Brilhante (2002) - Estados Unidos, 134 minutos.
Conta a história do americano John Forbes Nash Junior, interpretado por
Russel Crowe. Forbes, Prêmio Nobel de Matemática de 1994, embora dono de uma
inteligência genial, é portador de esquizofrenia, contra a qual luta a vida
toda. Mas ainda há tempo para a superação.
• Meu Nome É Rádio (2003) - Estados Unidos, 109 minutos.
Conta a história de James Robert Kennedy, interpretado por Cuba Gooding Jr.
James é um jovem que perambula pelas ruas e sempre passa perto do campo de
treino de um time de futebol americano. Os jogadores faziam muitas chacotas
acerca do garoto, até que um dia exageram. O treinador quer recompensá-lo de
alguma forma, protegendo-o e dando-lhe o que fazer. O porquê da opção do
treinador é o que faz dessa história um exemplo de determinação e superação.
• Desafiando Gigantes (2006) – Estados Unidos, 111 minutos.
Conta a história de Grant Taylor, um técnico de futebol americano que jamais
pôde se considerar bem-sucedido. Mas foi no pior momento da sua vida que ele
deu a volta por cima! “Nunca desista, nunca volte atrás, nunca perca a fé”,
são as chamadas desse filme!
• O Milagre de Anne Sullivan (1962) - Estados Unidos, 106 minutos.
Conta a história da persistente educadora Anne Sullivan, interpretada por
Anne Bancroft, que se empenha em promover a inclusão social de Helen Keller,
uma moça que nascera cega, surda e muda.
• Desafiando os Limites (2005) - Estados Unidos/Japão/Nova Zelândia, 127
minutos.
Conta a história real do neozelandês Burt Munro, interpretado por Anthony
Hopkins. Em 1960, Munro, cheio de problemas de saúde e já bem velho, faz uma
viagem da Nova Zelândia aos Estados Unidos com uma antiga moto, no intuito de
bater o recorde de velocidade. Sua história fala de determinação e gana em
atingir os objetivos.
• O Poder da Esperança (2007) - Estados Unidos, 94 minutos.
Conta a história de Richard Pimentel, interpretado por Ron Livingston.
Pimentel viveu uma infância difícil e traumática e, quando chega o tempo de
escola na adolescência, passa a compartilhar seus problemas com seus colegas
e então reconhece que tem o dom da oratória. Procura um educador para
orientá-lo e é rejeitado. Com sua autoestima ferida, ele abandona seus sonhos
e vai para a guerra, quando sofre um acidente. O resto é só superação.
• Carruagens de Fogo (1981) - Inglaterra, 123 minutos.
Conta a história de dois atletas ingleses que competem entre si nas
Olimpíadas de Verão. Um é religioso e corre como testemunho de fé, o outro é
judeu e corre para que, ao ganhar, a condição de celebridade o proteja dos
preconceitos. O filme é um dos verdadeiramente clássicos que tratam do tema
superação.
- A Voz do Coração - França
Na década de 1940, o professor de música Clément Mathieu
(Gérard Jugnot) passa a trabalhar em um internato, dirigido pelo inflexível
Rachin (François Berléand). Lá, estão abrigadas crianças e adolescentes
considerados delinqüentes ou que perderam os pais. A desordem e a desobediência
cedem lugar à disciplina, logo que iniciam as novas aulas de canto. O enredo se
desenvolve de acordo com as anotações do velho diário de um dos ex-alunos
rebeldes, Pierre (Jean-Baptiste Maunier), que se tornou um reconhecido maestro.
7. Não perca as oportunidades de elogiar sinceramente seus alunos. Esse gesto
tem um efeito impossível de se dimensionar! O elogio constrói elos, além de
ser um instrumento revelador dos nossos Eus! Não foi à toa que o filósofo
romano Sêneca (4 a.C. – 65 d.C.) disse: “Podes conhecer o espírito de qualquer
pessoa se observares como ela se comporta ao elogiar e receber elogios”.
8. A cada semana escolha uma frase otimista e afixe-a em um lugar bem visível
e, de vez em quando, leia-a em voz alta para refletirem juntos.
9. Veja na web os dias dedicados às profissões mais conhecidas. Selecione
algumas e, no dia indicado, fale delas para os alunos. Essa ação abre várias
janelas por onde eles podem sonhar o futuro.
10. Em um mundo onde não há mais distâncias, aproxime-se mais deles no espaço
fora da escola. Faça uma lista de e-mails e mantenha um canal constante de
comunicação com eles, seja por correio eletrônico, seja nos comunicadores
instantâneos. Há como fugir das banalidades e privilegiar informações que
enriqueçam.
11. Surpreenda-os! De vez em quando, faça algo que seja positivamente
inusitado, extraordinário, inesquecível! Randy Pausch, docente de Ciência da
Computação da Universidade Carnegie Mellon, em Pittsburgh, Estados Unidos,
falecido recentemente, conta no seu livro A Lição Final, uma história à qual
recorro com frequência: no primeiro dia de aula, ele levava um aparelho
eletrônico, colocava em uma mesa, apanhava uma marreta, destruía-o e dizia:
— Quando se constrói algo difícil de usar, as pessoas se aborrecem. Ficam tão
irritadas que querem destruí-lo. Nós não queremos criar objetos que as
pessoas queiram destruir!
Os alunos, chocados, diziam um para o outro:
— Não sei quem é esse sujeito, mas com certeza virei à aula dele amanhã para
ver qual será sua próxima façanha!
12. Quando expuser verbalmente um conteúdo extenso, não use um tom
monocórdio. Isso é sonífero em seu estado mais puro! Varie as entonações, até
dê algum tom teatral, caso caiba!
13. Nessa mesma situação, permanecer sentado atrás da mesa ou ficar encostado
na parede é quase que um apelo aos céus para que seus alunos caiam no sono
eterno! Explore o espaço disponível enquanto fala, isso faz,
consequentemente, com que os alunos movimentem a cabeça e o olhar,
produzindo, ao menos, o mínimo do despertar.
14. Vez ou outra, chame-os pelo nome enquanto expõe sua aula, pedindo
opiniões! Mesmo que você ainda não os tenha memorizado, você pode perguntar e
incluí-los na sua fala. Sabendo que você recorre a essa técnica, é certo que
grande maioria da turma se esforçará para ficar atenta ao que você diz, para o
caso de serem os próximos a serem convidados a participar da sua exposição.
Por exemplo:
— [...] Ricardo (ou, “Qual é o seu nome mesmo? Ah, sim... Ricardo!) dê sua
opinião livre sobre o que acabei de falar!
15. Quando possível, use apresentações em PowerPoint, mas não abuse dos
efeitos e das cores. Aliás, não abuse delas, não faça desse recurso sua única
forma de fazer suas aulas. Em algum momento, vai se tornar igualmente
monótono. O segredo, repito, é a variação!
16. Faça do humor a marca registrada das suas aulas! Só lhe peço atenção à
dose! Lembre-se do sábio provérbio: “De remédio a veneno, tudo é uma questão
de dose!”.
17. Leve objetos para serem mostrados à turma, seja colocando na mesa à
frente caso seja grande, como, por exemplo, uma escultura, um troféu; seja
circulando de mão em mão, como um álbum de fotografias ou uma moeda
estrangeira.
18. Uma aula que desperte e mantenha o interesse dos alunos aceso é como uma
corrida: a largada e a chegada são o que definem o sucesso!
19. Não se coloque como o “astro do espetáculo”; essa atitude pode significar
o início da derrocada! Ao contrário, reconheça e incentive o protagonismo dos
alunos!
20. Inclua dinâmicas de grupo ou jogos divertidos no seu planejamento e
tire-os da manga quando perceber que o interesse dos seus alunos está indo
para o brejo.
21. Não é prepotência ou devaneio: nós temos o poder de criar qualquer
atmosfera! Calma, eu explico: falo do clima convivencial! Quanto melhor for,
mais ricas, divertidas e significativas serão as vivências experimentadas
naquele ambiente!
22. Coloque-se sempre no papel de provocador de motivações. E, tão importante
quanto, inclua-se como sujeito delas!
23. Deixe sempre claro aos alunos onde estão os elos entre os conteúdos que
você expõe. Fica muito mais interessante quando eles percebem o continuum da
“matéria”, quando notam que os ensinos e as aprendizagens se processam em um
fluxo encadeado e não são largados em fragmentos no chão da sala de aula.
24. Busque mostrar a eles qual o valor de determinadas aprendizagens para a
vida, em que poderão aplicar os conhecimentos construídos, seja em curto,
seja em médio, seja em longo prazo.
25. Fundamentalmente, insista em fazer com que eles vejam o quanto a escola
pode representar no sentido de prover uma vida melhor para eles e suas
famílias quando o amanhã chegar!
MIRANDA, Simão de. Como se Tornar um Educador de Sucesso: Dicas, Conselhos,
Propostas e Ideias para Potencializar a Aprendizagem. Petrópolis: Vozes,
2011.
Simão de Miranda é Doutor em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano
pelo Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília. Também é Mestre em
Educação na área de Formação e Trabalho Pedagógico pela Faculdade de Educação
da mesma universidade.
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