Resenha
do texto:
FONTERRADA, Marisa Trench de Oliveira. De Tramas e Fios: Um ensaio sobre música e educação in “Tramando os fios da educação musical: os métodos ativos” Cap. 2, p. 119-206. São Paulo: Editora UNESP; Rio de Janeiro: Funarte, 2008.
Assim como nas mudanças dos contextos
sociais ocidentais na passagem do século XIX para XX, na educação musical
também foram traçadas novas perspectivas e métodos.
Nas décadas de 50 e 60 alguns destes
métodos foram introduzidos no Brasil, mas por uma séria de fatores, como por
exemplo, a substituição do ensino de Música por Educação Artística nos
currículos escolares em 1971, muitas dessas abordagens ficaram esquecidas.
No séc. XIX visava-se a formação de
exímios intérpretes musicais, provavelmente por já haver na história muitos
compositores e tantas obras de grande magnitude que precisavam serem executadas
para grandes platéias de novos ouvintes.
Deste modo, nas escolas técnicas de
música a prioridade era o ensino instrumental, forma que contraria os
educadores musicais pioneiros nos métodos, que visavam primeiramente o bem
estar e o desenvolvimento da criança, aplicando a técnica instrumental apenas
numa etapa posterior de ensino.
Dentre os músicos educadores mais
significativos para o Brasil estão:
◦ Émile-Jaques
Dalcroze
◦ Edgar
Willems
◦ Zoltan
Kodály
◦ Carl
Orff
◦ Shinichi
Suzuki
A PRIMEIRA GERAÇÃO
DALCROZE (1865-1950) - Movimento
corporal e habilidade de escuta.
Constatou que os alunos do conservatório
não imaginavam o som dos acordes escritos. Estabeleceu para a sua Educação
Musical uma sistematização das condutas: Música, Escuta e Movimento.
Se preocupou muito com o novo século, e
em sua responsabilidade de promover a educação das massas.
◦ ORGÃOS
EDUCACIONAIS
◦ PROFESSORES
◦ ARTISTAS
Para ele a educação do povo deveria ser
liderada por uma elite de artistas, pois líderes interessados apenas em
progresso não teriam a capacidade de conduzir o povo.
SÉCULO XIX – VERDADE NA NATUREZA
RÍTMOS NATURAIS
PSICOFÍSICA
Muitas das conclusões de Dalcroze foram
frutos de sua intuição e não diretamente da experimentação. Ele foi combatido
no meio musical. Fato que o forçou a aprofundar suas pesquisas com argumentos
sólidos e trabalho experimental.
Sua interpretação da realidade
permanecia inserida no pensamento romântico.
◦ REVOLUÇÃO
FRANCESA
◦ Aumento
populacional
◦ Forças
coletivizantes
◦ Educação
das Massas
▪ COLETIVO
=> Força selvagem
▪ MÚSICA
=> Chicote de um domador de feras
Foi uma época de enfraquecimento da igreja,
que era reponsável por muita utilização da música.
“nenhuma evolução, nenhum progresso podem ocorrer sem a
participação da juventude, pois são nos espíritos jovens que as idéias deitam
suas raízes mais profundas” (Dalcroze, “Un essai de réforme de l'enseignement
musical dans les écoles”, 1905, in 1965, p.14).
As autoridades escolares não tomavam
conhecimento das recentes teorias educacionais de Froebel, Pestalozzi e
Claparede, e da análise sobre a falta da música na escola feita por Mathias
Lussy.
Só a 'verdadeira' educação daria a
“oportunidade para o máximo desenvolvimento das potencialidades humanas”.
Dalcroze dedicou sua vida à essa
utopia.
VERBO, GESTO E MÚSICA
Ideal artístico dificilmente
concretizado
“Toda ação artística é um ato educativo
e o sujeito a que se destina essa educação é o cidadão, seja ele criança, jovem
ou adulto.”
RÍTMICA – MÚSICA E MOVIMENTO –
ATIVIDADE EDUCATIVA
Desenvolvimento:
ESCUTA ATIVA
VOZ CANTADA
MOVIMENTO CORPORAL
USO DO ESPAÇO
Ritmo e atividade motora:
A Rítmica ocupa uma posição peculiar em
relação a outros métodos e abordagens em educação musical.
Ela não é um fim em si mesma, mas um
meio de estabelecer relações.
EDGAR WILLEMS (1890-1978)
Aluno de Dalcroze.
Necessidade de ensinar música à toda a
população – Ideal democrático da Revolução Francesa.
Introdução da humanidade na educação
musical.
Operar em bases racionais e encontrar
as relações entre a música e o homem.
Status científico à Educação Musical.
AUDIÇÃO => Sensorial, Afetiva e
Mental
Defensor da causa na qual a cultura
auditiva deve ser difundida para todos, e deixar de ser exclusividade de
pessoas talentosas a educação musical.
A escuta (preparo auditivo) é a base
para a musicalidade e deve vir antes do instrumento musical.
MUNDO OBJETIVO DAS VIBRAÇÕES SONORAS
MUNDO SUBJETIVO DAS IMAGENS SONORAS
Helmholtz => Willems => As leis
estéticas e artísticas não contradizem as leis naturais que governam os sons e
suas relações.
Comenius: “Não há nada no intelecto
humano que não tenha antes passado pelos sentidos.”
Dessa forma Willems, em seu sistema de
educação, dirige primordialmente ao desenvolvimento da função do órgão
auditivo.
SENSORIALIDADE AUDITIVA=> Fenômeno
sonoro, som como entidade física.
SENSIBILIDADE AFETIVA AUDITIVA=>
Passar do ato objetivo, sensorial de ouvir para o ato subjetivo de escutar.
Nesse estágio é necessária uma melodia,
que pode trazer sentimentos, ou algo que mexa com a mente do indivíduo
(nostalgia, alegria, tristeza, esperança, amor, dor, etc.).
INTELIGÊNCIA AUDITIVA=> Consciência do
universo sonoro. O ouvido registra os sons isoladamente.
A atividade cerebral apreende a
simultaneidade dos sons.
Imaginação criativa – imaginar e criar
imagens sonoras.
ZOLTAN KODÁLY (1882-1967)
Nacionalista húngaro que reconstruiu a
cultura musical húngura, perdida por muitos anos por influência de sucessivos
invasores territoriais.
O trabalho científico de Kodály e seu
grupo em prol da redescoberta da cultura húngara apresentava quatro fases:
·
COLETA DE MATERIAL
·
TRANSCRIÇÃO
·
CLASSIFICAÇÃO
·
PUBLICAÇÃO
Para Kodály a composicação musical, a
pesquisa científica e a educação musical possuem igualdade de condições.
Uma de suas metas era ensinar o
espírito do canto a todas as pessoas, por meio de um eficiente programa de
alfabetização musical.
No Brasil, o sistema Kodály é difundido
pela Sociedade Kodály do Brasil, em São Paulo, que oferece cursos regulares e
de curta duração, e busca no folclore brasileiro equivalências às constantes
encontradas nas canções húngaras.
CARL ORFF (1895-1982)
RÍTMO / MOVIMENTO / IMPROVISAÇÃO
Não deixou textos que explicassem sua
filosofia e os princípios de sua abordagem.
Mas como houve grande difusão da
abordagem Orff pelos países da Europa e
América, há um grande material secundário que pode aprofundar nosso
entendimento.
Inclusive Associações Orff que se
encarregam de difundir pesquisar e aplicar os princípios elaborados por Orff.
Ele priorizava em seus metódos a escala
pentatônica, utilizando-a como base para o aprendizado de música. Isso pelo
motivo de que o modelo pentatônico surgiu historicamente antes do tonalismo, e
ela possui caráter circular, não direcional e comporta a superposição de todos
os seus componentes sonoros.
SHINICHI SUZUKI (1898-1998)
No livro 'Educação é Amor', afirma que
toda criança, potencialmente, tem a capacidade de aprender música.
Para Suzuki, assim como as crianças
aprendem sua língua materna cedo, pelo fato de ter a companhia dos pais
tentando se comunicar desde que elas
estão na barriga da mãe, o mesmo acontece com a música.
O método Suzuki presupõe que as pessoas
são produto de seu meio. E o meio pode ser fabricado artificialmente de modo a
proporcionar o que for ideal para as crianças.
O meio que proporciona o
desenvolvimento musical da criança, é aquele em que os pais estão tocando e
cantando na mesma frequência em que se comunicam verbalmente.
Entre diversas instruções, Suzuki
afirma que a criança já deve tocar de ouvido para só depois então ter contato
com a leitura e teoria musical.
Por mais que o período de vida desses
educadores coincidisse com a produção musical de vanguarda, o material
utilizado por eles nas aulas de música foi mais tradicional do que inovador.
Só no final da década de 1950 e 60 que
os procedimentos das aulas se alinharam aos da vanguarda musical.
A SEGUNDA GERAÇÃO
Época de virada da produção musical,
meados da década de 1950.
·
Pesquisas de Pierre Schaeffer
·
Experiências de música eletrônica de
Eimert e Stockhausen
“Música é sons, sons à nossa volta,
quer estejamos dentro ou for a de salas de concerto” (Cage, apud Schafer,
1991b, p.120)
Essa nova geração de educadores
musicais privilegiam a criação, a escuta ativa, a ênfase no som e suas
características, e evitam a reprodução vocal e instrumental que denominam
“música do passado”.
·
GEORGE SELF
·
JOHN PAYNTER
·
BORIS PORENA
·
MURRAY SCHAFER
GEORGE SELF
Ensino de música voltado ao passado:
“adestramento musical dos alunos”.
Nas ciências e em outras formas de
arte, os alunos trabalham com a linguagem contemporânea e estão alinhados às
mais recentes descobertas científicas ou às últimas produções artísticas,
enquanto na aula de música, em seu país, sucede justamente o contrário.
Classifição dos instrumentos:
Instrumentos que produzem sons curtos, sons de extinção gradual e sons
sustentados.
JOHN PAYNTER
A grande marca do século foi a
valorização da experiência individual e não a manutenção das tradições.
Aula de música: Oficina de
Experimentação
BORIS PORENA
O foco da abordagem do fenômeno musical
é o procedimento lúdico. Aulas abertas, caráter de “oficina”, com ênfase na criatividade.
MURRAY SCHAFER
Acredita mais na qualidade da audição,
na relação equilibrada entre homem e ambiente, e no estímulo a atividade
criativa do que em teorias de aprendizagem musical e métodos pedagógicos.
A criança, isenta de atitudes
preconceituosas em geral encontradas entre os adultos, tem capacidade para
apreciar tanto a música do passado quanto a de vanguarda, e deve ser estimulada
a tomar contato com produções de vários estilos e épocas.
Educação Musical ==> Educação Sonora
Falou-se apenas de materiais europeus e
americanos, nada foi exposto com referência a outras culturas. Nossa
sistematização de pesquisas e experimentações nos vêm desses países. O modelo
de pós-graduação brasileiro é americano, e isso se reflete na própria
bibliografia a que se tem acesso.
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