quinta-feira, 23 de agosto de 2012

DIGA-ME QUAL TEU DITADO E TE DIREI QUE PROFESSOR ÉS...




LAURO DE OLIVEIRA LIMA, eu seu livro Introdução à Pedagogia (1983),
trabalha com alguns ditados populares que remetem a concepções de
ensino-aprendizagem importantes a serem retomadas em nosso estudo
sobre o currículo escolar.

“Pau que nasce torto, morre torto” (o autor citado prefere “quem é bom nasce feito”).

Se eu, professor, penso assim, isso pode significar que eu acredito que os instintos, as vocações e as aptidões são predominantes no ser humano (LIMA, 1983), e que as relações estabelecidas entre um ser humano e outros de sua espécie e seu meio não são tão relevantes para sua formação quanto aquilo que o sujeito traz ao nascer. Nesta perspectiva, existe uma predefinição a respeito das capacidades ou incapacidades para aprender e, a escola será apenas um palco onde essas capacidades e incapacidades serão reveladas. Esta perspectiva pedagógica é chamada INATISMO ou APRIORISMO.

Conhecer, diz Platão, é recordar a verdade que já existe em nós; é despertar a razão para que ela se exerça por si mesma. Por isso, Sócrates fazia perguntas, pois, através delas, as pessoas poderiam lembrar-se da verdade e do uso da razão. Se não nascêssemos com a razão e com a verdade, indaga Platão, como saberíamos que temos uma ideia verdadeira ao encontrá-la? Como poderíamos distinguir o verdadeiro do falso, se não nascêssemos conhecendo essa diferença? (CHAUÍ, 2000).

“Água mole em pedra dura, tanto bate até que fura”


Oposta à primeira concepção, o entendimento expresso neste ditado implica acreditar que tudo o que é “impresso” no ser humano é resultado do meio externo a ele, significa considerar o meio em que o sujeito vive, e suas experiências neste meio, como determinantes de seus comportamentos, valores, saberes e crenças. Do ponto de vista docente, o ditado popular representa a visão do ser humano como uma tábua rasa, sobre a qual podemos marcar comportamentos, valores, saberes e crenças. A assimilação destes comportamentos, valores, saberes e crenças se daria pela insistência, repetição exaustiva de exercícios, prêmios e castigos que tentam enquadrar o sujeito nos parâmetros desejados (ver mais em LIMA, 1983). Esta perspectiva pedagógica é conhecida como EMPIRISMO.

“Quem com ferro fere com ferro será ferido”


Esta concepção remete-nos a entender que nada tem um lado só, ou seja, que tudo o que se faz tem suas implicações: uma relação de dois lados (no mínimo). Transposta para os entendimentos possíveis dos processos de ensino-aprendizagem, esta compreensão representa, para o docente, que nem o ser humano é apenas seus traços biológicos, trazidos ao nascer, e, ao mesmo tempo, não é, apenas, as suas experiências em um meio físico, social e cultural. Há uma compreensão DIALÉTICA, que se refere à interação entre a base biológica e o meio físico, social e cultural implicada nos processos de aprendizagem. Ou seja, o ser humano não é apenas sua bagagem biológica, assim como também não é apenas as experiências que adquire em seu meio físico, social e cultural. Nesta perspectiva, somos seres (cada um) únicos que nos formamos em uma relação conflituosa entre as condições biológicas e as interações estabelecidas (no sentido de trocas) no meio em que vivemos (que é físico, social e cultural).
Dentro desta perspectiva de desenvolvimento, encontram-se as visões sobre aprendizagem interacionistas, CONSTRUTIVISTAS e socio-históricas, por exemplo. Estas visões conceberão o conhecimento como construção, ora mais social e cultural, ora mais subjetiva ou intersubjetiva.

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